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Por que progressistas não entendem conservadores?

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Como entender as tensões entre moralidades rivais e seus desdobramentos para o campo da política e da religião? O livro de Haidt, já clássico, é um guia seguro para as respostas necessárias.

Estado da Arte
04 Outubro 2018 | 19h31
https://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/por-que-progressistas-nao-entendem-conservadores/
por Bruna Frascolla

Jonathan Haidt é um psicólogo social best seller nos Estados Unidos. Em The Righteous  Mind (Vintage, 2012), ocupa-se da polarização ocorrida por lá entre democratas e republicanos. O motivo de a esquerda ir tão mal nos Estados Unidos seria a sua moralidade, incapaz de dialogar com outros grupos políticos. Tudo se passa como se o homem tivesse uma espécie de paladar moral, e a intelectualidade só satisfizesse um ou dois sabores. Então, quando o conservador fala de patriotismo, religião e muitas outras coisas, ativa o paladar completo. O maior êxito do conservador não é um problema em si, nem causa polarização. O problema, e a causa da polarização, é a intelectualidade progressista ou não ser capaz de entender que pessoas de extratos sociais diferentes têm uma moralidade diferente, ou de aceitar que não há problema nenhum com isso. Em outras palavras, há um problema de aceitação da diversidade da parte dos que pregam a aceitação da diversidade.

Haidt narra a sua trajetória pessoal junto com a formação de sua teoria. Era um progressista clichê interessado por moralidade e, por isso, devorou livros de antropologia que tratassem de tribos exóticas. Assim, constatou que a moralidade ocidental é excepcional em comparação a um imenso conjunto de moralidades humanas, e isso porque a nossa é muito mais enxuta. Basicamente, o que um bom ocidental teria de fazer é não causar dano a outrem; seria a moralidade do cuidado. Pessoas são más por causarem dano, e são boas por fazerem o bem a outrem. Na maioria das outras culturas, há outras bases para a moralidade, como, por exemplo, a santidade e a autoridade (as pessoas são boas porque desempenham papéis relevantes numa religião, ou porque são respeitosas com um grupo). Para testar a sua hipótese, elaborou um questionário com tabus sem dano a fim de entregar a indivíduos de outras culturas. A ideia era ver se eles condenam moralmente o indivíduo autor de ações sem dano, como fazer sexo com uma galinha morta antes de cozinhá-la, ou uma vegetariana experimentar a carne de um cadáver humano não reclamado. Em busca de um lugar exótico e, a seu ver, não Ocidental, veio ao Brasil aplicar o questionário em parceria com professoras do Rio Grande do Sul (que não lhe pareceu exótico), de Pernambuco (que lhe satisfez as expectativas) e replicá-lo nos Estados Unidos, mas atentando ao recorte de renda. O resultado foi que um estadunidense rico se parceria mais com um pernambucano rico do que com um estadunidense pobre.

No fim das contas, o recorte social dessa moralidade enxuta consistiria no acrônimo anglófono WEIRD (esquisito): em português, ocidental, instruído, industrializado, rico e democrático. Segundo sua teoria, a moralidade humana seria como o paladar, no sentido de que tem receptores diversos para gostos diversos. Analogamente, fomos moldados pela evolução para ter cinco fundações morais: o cuidado, a justiça, a lealdade, a autoridade, a santidade e a liberdade. Esta última teria sido a última a desenvolver-se, quando as sociedades já eram complexas o suficiente para que os indivíduos pudessem conspirar contra um cacique opressor. Este seria o fundamento moral de todo revolucionário; seja ele um comunista oprimido por banqueiros, ou um antiestatista oprimido por altos tributos.

A moral progressista é WEIRD, e seus valores sagrados mexem só com duas fundações: o cuidado, que tem sua expressão na defesa dos direitos humanos e de minorias; e a liberdade, que se revela com a narrativa da revolução socialista. A seu turno, os conservadores têm valores sagrados para ativar cada fundação moral. O patriotismo responde pela lealdade; a meritocracia, pela justiça; a religião à santidade; e há o respeito a autoridades (compare-se, por exemplo, os ideais de professor que têm conservadores e progressistas). Mas o fato de essa moral ser de um nicho de classe e escolaridade é apenas um dos motivos de ela não ter apelo amplo. Há o problema de, por operar com apenas duas fundações, o sujeito que dela participa não conseguir interpretar os valores de moralidades mais amplas. O mesmo não se dá com o conservador. Para testar essa hipótese, Haidt elaborou um teste onde um progressista teria de responder a um questionário como se fosse um conservador, e vice-versa. A conclusão foi que os conservadores conseguem prever os juízos dos progressistas, mas não o contrário. Ou seja, o progressista estadunidense de fato acha que conservadores são racistas machistas malvados, mas o conservador consegue entender as razões do progressista.

O próprio Haidt conta só conseguiu romper a sua matriz moral ao passar um tempo como pesquisador morando na Índia. Ele conta ter chegado enxergando machismo e condenável exploração de empregados por toda parte, mas depois ter aprendido a ver as coisas como os indianos. Isso não implica aceitação acrítica dos costumes, nem que eles permaneçam estáticos. Mas implica algum respeito pela visão de mundo alheia, e dá uma compreensão que possibilita o diálogo.

Completando o quadro político dos EUA, há os liberais, que também têm uma moralidade WEIRD, mas ainda mais restrita do que a dos progressistas. Eles sacralizam somente um valor, que é o da liberdade. Assim, têm um casamento de conveniência com os conservadores por enxergarem nos progressistas uma ameaça a esse seu valor único. Frise-se, por fim, que ser ocidental, educado, industrializado, rico e democrático não implica ser liberal, nem progressista; há conservadores com esse perfil, mas não há, no mundo contemporâneo, liberais e progressistas fora desse perfil.

***

E o Brasil? Creio que esse quadro sirva para analisar a queda do PSDB. O PSDB é um partido de uspianos WEIRD. FHC dificilmente convence de que não é ateu; Alckmin, assim como Marina, é religioso, mas não se coloca politicamente como religioso. O PSDB não costuma se pintar de verde e amarelo, nem evocar a pátria. No caso particular do Brasil, a questão do racialismo é uma afronta ao patriotismo, dado que envolve dizer que somos um país racista dividido entre brancos e negros, enquanto que nosso cultivo do patriotismo sempre envolveu celebrar a nossa história de mestiçagem e ausência de Apartheid. O feitio uspiano do PSDB não é contrário à defesa de grupos oprimidos com recorte identitário; pelo contrário. Assim, nesta campanha resolveu usar a questão das mulheres como cavalo de batalha. Ora, para o eleitorado conservador, a defesa das ditas minorias (ou, antes, de grupos identitários) é reconhecida como bandeira de esquerda. Isso não quer dizer que o conservador seja favorável a espancar mulheres, mas somente que enxerga a divisão política entre homens e mulheres como uma coisa de esquerda, contrária aos seus valores patrióticos.

Quando o PSDB faz isso, perde também o apoio dos liberais, que enxergam nas políticas identitárias uma fonte de opressão estatal. Um liberal não quer pagar impostos para burocratas promoverem justiça social; em vez disso, vê tais propósitos como demagogia perigosa. Assim, por causa dos valores professados, o PSDB perde eleitorado conservador para Bolsonaro e liberal para o Novo. Não é que o partido tenha mudado: é que novas opções conseguiram encontrar uma demanda  de grupos que queriam representação.

Chama a atenção, também no Brasil, a incapacidade dos progressistas de entender outras moralidades. Como podem fazer uma passeata xingando todo aquele que discorde de seus ideais, e pretender conquistar votos? Está longe de ser uma surpresa a ascensão de Bolsonaro após o #elenão.

Bruna Frascolla é doutora em Filosofia pela UFBA, atualmente pesquisadora colaboradora da Unicamp, tradutora dos Diálogos sobre a religião natural, de David Hume (Edufba, 2016)

Cortesia

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Os costumes japoneses de educação são conhecidos no mundo todo. Para outras culturas, eles parecem extremos e difíceis de se entender. A visão japonesa pode ser acrescentada ao se dizer que a cortesia coloca outros em pé de igualdade consigo mesmo, ou até mesmo um pouco mais acima. Cortesia é uma expressão de completa simpatia. Ela florece do mesmo ideal da Regra de Ouro¹ cristã, mas é levada com um alto grau de atenção. Toma-se cuidado para não fazer nada que deixe o outro com o sentimento de ser o centro das atenções ou de obrigação.

(¹) Nota de tradução: A Regra de Ouro do cristianismo, e que é também encontrada em todas as outras religiões de forma semelhante, é a que diz: “não faça aos outros o que não deseja que façam com você.”

Se dois conhecidos se encontram sob chuva e apenas um tem um guarda-chuva, qual seria a ação cortês?

* Ele poderia dar o guarda-chuva para a pessoa descoberta, mas isso faria essa pessoa se sentir obrigada.

* Ele poderia compartilhar o guarda-chuva se fossem amigos próximos mas, se não, isso forçaria o outro a aceitar uma situação de proximidade que o poderia deixar emocionalmente desconfortável.

* A pessoa com o guarda-chuva pode abaixá-lo para mostrar ao seu conhecido que, ao contrário de querer embaraçá-lo, ela compartilhará sua condição e tomará chuva.

http://www.aikikai.org.br/artigos.php?indice=203

Tudo é Ofensivo!

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Isto é ofensivo.
Aquilo é ofensivo.
Ele é ofensivo.
Ela é ofensiva.
Eles são ofensivos.
Nós somos ofensivos.
Todos são ofensivos.
Sem ofensa.
Não quis ofender.
Você se ofendeu? Eu me ofendi.
Eu fiquei um tanto ofendido.
Você me ofende!
Eu te ofendi?
Não pretendi ofender.
Não se ofenda.

Linguagem ofensiva.
Conteúdo ofensivo.
Assunto ofensivo.
Piadas ofensivas.
Cachorros ofensivos latindo no fundo.
Tudo… é… tão… ofensivo.

Ofensivo para heterossexuais.
Ofensivo para homossexuais.
Ofensivo para bissexuais.
E assexuados.
E trissexuais.
E omnissexuais.
E todo outro tipo de sexuais por ai.

Ofensivo para pretos, para brancos, para latinos,
para judeus, para árabes,
para cada raça no planeta.

Ofensivo para marxistas e fascistas,
e liberais, e conservadores,
e feministas, e libertários.

Ofensivo para cada ideologia no mapa.

Ofensivo para cristãos, muçulmanos,
judeus, pagãos, wiccas, satanistas
e ateus, assim como eu.

Feministas se ofendem quando eu olho
para sua bunda em público.
E eu me ofendo quando elas me
chamam de gordo pateta.
E todos à nossa volta ficam ofendidos
por nossa exibição pública de animosidade.

E cristãos conservadores estão ofendidos
por você assistir pornografia no computador.
Hei, feministas estão ofendidas
por isso também, vai entender?

Para mim parece que ficar ofendido
é uma coisa perfeitamente natural.

Somos todos seres humanos com inseguranças
e certas coisas nos massageiam erroneamente,
como uma massagista inexperiente
numa casa de massagem asiática.

Mas não se preocupe pois esta
história ainda pode ter um ‘final feliz’!

Nós temos de reconhecer uma básica
pequena verdade primordial sobre nós mesmos:
que nós nos ofendermos…

(Cody, me dê uma bateria aqui!)
tudumss

Sim, assim está bom.
Rufar de tambores legal.

Nós estarmos ofendidos…
É…
Absolutamente…
SEM SENTIDO!

Como se eu tomasse isso por um fato,
pessoas me dizem que os filmes do Crepúsculo
são bons filmes, eu me ofendo.

Mas eu não começo uma maldita campanha
para banir estes filmes dos cinemas.

Quero dizer, eu poderia fazer isso e eu
provavelmente teria um monte de pessoas
me ajudando,
mas estas pessoas seriam idiotas!
Porque eles são pessoas que acham que
seu critério é mais importante que
os direitos das outras pessoas de experienciar
qualquer besteira que queiram experienciar.

Eu me ofendo bastante.

Eu me ofendo pela estupidez da minha espécie
e eu divido minha frustração
com vocês,
e você pode pegar ou deixar
de acordo com sua própria vontade.
Mas, no momento em que eu começo
a curvar coisas que eu não gosto
simplesmente porque eu não gosto delas,
eu perco toda credibilidade.
E não me leve a mal, há coisas neste
mundo que provavelmente devemos banir,
mas elas normalmente são coisas que
envolvem uma pessoa ferrando com outra pessoa
numa muito substancial e inevitável maneira.

Por exemplo, não lembro quem disse,
mas há esta ótima citação sobre
meu direito de dar socos em sua cara.
Você percebe o que estou dizendo aqui?
Posso certamente fazer isso toda hora, (dar socos no ar)
desde que não esteja te afetando,
mas no segundo em que há contato
e seu crânio quebra em cinco mil pedaços
porque eu sou enormemente forte…
Aí é quando meu
direito de fazer isso acaba.

Você percebe o que eu estou dizendo?
Você entendeu?
Você está detectando a nuança deste argumento?

Gays estão ofendidos por fanáticos?
Ótimo.
Então gays não devem se juntar com fanáticos.

Fanáticos estão ofendidos pelos gays?
Ótimo.
Então fanáticos não devem se juntar com gays.

Mas quando gays dizem: “Nós vamos
passar leis contra discursos de ódio para
estes fanáticos dizendo coisas fanáticas.”

Isto é errado.

E similarmente, fanáticos não devem tentar legislar
sua merda equina em forma de emendas
constitucionais para banir o casamento gay.

É apenas merda de cavalo!

Há muitas pessoas por aí que acha que,
só porque homossexualidade os ofende,
eles podem dizer aos homossexuais o que fazer.

Acham que o fato de estarem ofendidos
faz o objeto de sua ofensa ficar devendo algo
para eles de alguma forma.

Mas não faz.

E adivinhem, todos vocês aí que estão tramando:
“Ele apoia o casamento gay, isso é maravilhoso.
Ótimo que ele está falando a favor do casamento gay.”

O mesmo argumento vale para poligamia,
que eu sei que não é nem de perto tão popular.
Mas se você quiser ser um cara que casa
com 50 mulheres, tenha os meios para fazer isso e
todas estejam concordando isto está ótimo.
Se você queiser casar com 50 caras, mesma coisa.

Qualquer contrato social em que você queira
se meter, está ótimo para mim.

Não me importo se isto ofende
99,9% das pessoas!

Se é uma coisa sua, e se é entre adultos
consentindo, não vejo como isso é assunto
de quaisquer destas pessoas.

A não ser que você esteja machucando alguém,
e contra sua vontade, veja bem.

Caso você esteja machucando
alguém, e contra sua vontade, então é
assunto das outras pessoas
pois temos de proteger os direitos de todos.

Mas para tirar seus direitos?
Isto não proteger os direitos de todos!

Temos que lembrar:
[temos que lembrar, temos que lembrar, temos que lembrar]

Estou sendo muito idealista aqui?
Sim, provavelmente estou.

Provavelmente estou sendo um pouco idealista
demais quando digo que seres humanos podem parar
de colocar suas ofensas num pedestal
e dizendo: “Yeah, assim é como as coisas
deveriam ser, pois estas são as coisas que eu
não gosto pessoalmente…
e tenho de legislar isto para todos os outros.”

Vamos continuar com nossas campanhas
para parar tudo e banir tudo,
até que tudo tenha parado e tudo tenha
sido banido.

Fizemos isso para Galileu,
quando sua descoberta científica
contradisse a Bíblia.

“Estamos ofendidos. PAREM-NO!”

Fizemos isso para J. D. Salinger,
quando seu livro foi ofensivo para nós.

“Oh, é ofensivo! Temos que banir isto!”

Temos que parar de parar coisas.
Temos que parar de banir coisas também.
Temos que perceber que, se você está
vivendo em um país onde alguém pode
dizer algo que te ofende,
isto significa que você também está
vivendo em um país onde você pode dizer
algo que ofende eles!

Queremos ser uma nação de surdos-mudos?
Ou queremos desenvolver pele mais grossa?
E dedos médios maiores? o===8

Vincent Liopard. is a BIUCS Project.