É muito esculacho nessa vida…

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– Eu não fico triste com nada. Sempre tô “se” drogando. Sou ladrão. Eu roubo porque ninguém me dá nada. Se eu não robuar, ninguém vai me dar. Aí eu tenho que roubar mesmo. Se eu não roubar, vou ficar duro. Eu roubo pra viver.

– Faz o que com a grana?

– Ah, gasto. Fumo veneno (maconha com cocaína, dou uns tecos (cheiro cocaína).

– Me conta do seu dia. Me conta como é o seu dia?

– Meu dia, não. A noite. Porque de dia eu durmo, e à noite eu fico acordado. Eu durmo de dia e acordo de noite. Fico a noite toda acordado. De dia é muita polícia na favela.

– E de noite?

– De noite é arregado (subornado). Não entra nada. Se entrar, vai bala. Eles têm medo de tomar tiro. Aí não entra, não.

– Você faria o que com muito dinheiro?

– Ah, comprava uma moto, comprava uma casa. Trazia minha mãe pra morar aqui. Lá onde ela mora é muito ruim.

– E você faria o que com a moto?

– Ficava tirando onda. As “mulé” aqui só namora quem tem “motinha”, dinheiro. É muito dificil pegar um caidinho que nem eu. Só se for caidinha também. Mas se for bonita, quer tirar onda, aí tem que estourar a boa (roubar).

– E as outras crianças que não precisam roubar?

– As que não precisam roubar, é porque o pai tem condições de criar. Tem… Dá de tudo, “motinha”… Aí ele nem pensa em virar o que eu sou.

– Mas às vezes você chora?

– Não.

– Quando fica triste?

– Eu não fico triste com nada. Sempre tô “se” drogando. Não penso em nada. Só rir, só alegria. Enquanto tem dinheiro. Quando o dinheiro acaba, tem que roubar, tem que meter as “cara” na pista. O ritmo é chapa quente.

– Você tá preparado?

– Tô preparado não. O que “vim” eu tô fazendo. Ainda sou novinho. Tenho muito pra curtir.

– E se morrer?

– Se morrer, nasce outro que nem eu. Ou pior. Ou melhor. Se eu morrer, eu vou descansar. É muito esculacho nessa vida.

Vincent Liopard. is a BIUCS Project.