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Solidão
Segundo Pascal, o grande pensador científico-filosófico do século XVII, "a verdadeira natureza do homem, seu verdadeiro bem, sua
verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo conhecimento é inseparável."
Nem sempre a solidão pode ser
encarada como dor ou insânia. É, em muitas ocasiões, períodos de preparação, tempos de crescimento, convites da vida ao
amadurecimento.
De acordo com o pensamento de Pascal, o âmago do ser está intimamente ligado ao bem, à virtude e à religião. É justamente nas "épocas
de solidão" que conseguimos a motivação necessária para estabelecer a verdade sobre esse fato.
Na solidão, é que encontramos sanidade para nosso mundo interior, respostas seguras para nossos caminhos incertos e nutrição
vitalizante para os labores que enfrentamos em nossa viagem terrena.
Nestes nossos apontamentos sobre a solidão, não estamos nos referindo à "tristeza de estar só", mas sim, necessariamente, à "quietude
íntima", tão importante e saudável para que façamos um trabalho de autoconsciência, valorizando as nuances de nossa vida interior.
Muitos indivíduos vivem dentro de um ciclo diário estafante. Realizam suas atividades num ambiente de competitividade, agitação,
pressa e rivalidade, vivendo em constante tensão psicológica e, por conseqüência, alterando suas funções fisiológicas. Por viverem num
estado de cansaço e desgaste contínuos, não conseguem fazer uma real interação entre o meio ambiente e o seu mundo interno, o que
ocasiona sérios problemas de convivência e inúmeros conflitos pessoais.
Nem sempre é possível abandonarmos a vida alvoroçada, os ruídos e as músicas estridentes, talvez seja até mesmo inviável; mas é
perfeitamente realizável dedicarmos algum tempo à solidão, retirando-nos para momentos de reflexão.
Nos instantes de silêncio, exercitamos o aprendizado que nos levará a abrir um canal receptivo à Consciência Divina. É nesse momento
que ficamos cientes de que realmente não estamos sozinhos e que podemos entrar em contato com a voz da consciência. A voz de Deus, por
assim dizer, começará a "falar em nós".
Inúmeras criaturas criam uma mente agitada por temerem que estão vazias, pensam não haver nada dentro delas que lhes dê proteção,
apoio e segurança. Acreditam que são uma casca que precisa exclusivamente de sustentação exterior; por isso, continuam ocupando a casa
mental ansiosamente, obstruindo seu acesso à luz espiritual.
A mente pode ser uma ajuda efetiva, ou mesmo um obstáculo ferrenho na escolha da melhor direção para atingirmos o amadurecimento
íntimo. A crença em nossa limitação é que faz com que restrinjamos nossa mente. Isso se agrava quando envolvemo-la no burburinho de
vozes, no tumulto e na agitação do cotidiano, passando assim a não avaliarmos corretamente seu verdadeiro potencial.
São muitos os caminhos de Deus, e a solidão pode ser um deles. "E saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os
seus discípulos o seguiram."
Jesus Cristo, constantemente, se retirava para a intimidade que o silêncio proporciona, pois entendia que a elevação de alma somente é
possível na "privacidade da solidão".
O Cristo Amoroso sabia que, quando houvesse silêncio no coração e no intelecto, se estabeleceriam as bases seguras da relação entre a
criatura e o Criador, proporcionando a percepção de que somos unos com a Vida e unos com todos os seres.
"... buscam no retiro a tranqüilidade que certos trabalhos reclamam. (...) Isso não é retraimento absoluto do egoísta. Esses não se
insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham."
A Espiritualidade Maior entende que, nos retiros de tranqüilidade, criamos uma sustentação interior, que nos permite sintonizar com as
leis divinas e com os valores reais da consciência cristã.
Ouçamos com os ouvidos internos, pois ninguém pode assimilar bem uma experiência que não provenha de sua própria orientação interior.
Ninguém é capaz de seguir sua verdadeira estrada existencial, se não refletir sobre sua essência. Não encontraremos o caminho de que
verdadeiramente necessitamos, se nós mesmos não o buscarmos, usando nossos inerentes recursos da alma para perceber as inarticuladas
orientações divinas em nós.
Somente cada um pode interpretar as razões da Vida em si mesmo.
Adotemos o aprendizado com o Senhor Jesus, exemplificado no Horto das Oliveiras: retiremo-nos para um lugar à parte e cultivemos os
interesses de nossa alma.
Se não encontrarmos um recanto externo que facilite a meditação, nem alguma paisagem mais afastada junto à Natureza, onde possamos
repousar da inquietação da multidão, mesmo assim poderemos penetrar o nosso santuário íntimo.
Sigamos o Mestre, recolhendo-nos na solidão e no silêncio do templo da alma, onde exclusivamente encontraremos as reais concepções do
amor e da justiça, da felicidade e da paz, de que todos temos direito por Paternidade Divina.
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