Do ponto de vista individual, os fatos mencionados no livro mostram, como seria de esperar, que a educação de fato importa. Ou seja, é preciso “ter as qualificações certas, nas áreas certas, conferidas pelas instituições certas”. Na verdade, isso importa mais do que nunca. Os que abandonam a escola cedo, ou que não têm qualificações, ficam como que “marcados”, destinados à baixa renda. Essa probabilidade é alta e continua aumentando. Cada vez mais, os que não têm diploma universitário – ou, em alguns casos, diploma de uma boa universidade – também são classificados dessa maneira brutal. Em outras palavras, o retorno da educação, na esfera do indivíduo, é alto. Mas há outra pergunta que também precisa ser respondida, especialmente em países com um sistema educacional (inclusive, universitário) financiado pelo Estado: qual é o retorno para a sociedade como um todo?
O livro mostra que esse retorno pode ser muito mais baixo do que se imagina. Em especial, mais educação não significa necessariamente mais crescimento, como supõe a maioria dos políticos (e dos economistas), antes de pensar o suficiente sobre o assunto.
As dúvidas não se concentram na educação primária e secundária. As sociedades modernas dependem de um alto nível de alfabetização e conhecimentos básicos de matemática. Se os alunos saem da escola primária e secundária sem possuir esses conhecimentos, a ignorância se transforma num fardo, para o indivíduo e para a sociedade. No alto da pirâmide, as sociedades modernas também precisam de excelentes universidades, que formem número substancial, mas não vasto, de profissionais qualificados para serem pesquisadores e praticantes de medicina, engenharia e ciências. De modo mais geral, a educação contribui (ou pode contribuir) para o capital humano de um indivíduo, o que torna as pessoas mais produtivas. E se os indivíduos de uma sociedade forem mais produtivos, seria de esperar que a própria sociedade também seja mais produtiva.
Sendo assim, qual é o problema? Se tudo isso é verdade, como é possível que um nível mais alto de educação não torne um país mais próspero? Um ponto crucial é que a educação é um “bem posicional”: isto é, a preparação para obter salários elevados não depende apenas de ter instrução, mas, também, de ter uma instrução melhor que a de quem está ao lado. De certa forma, a educação é uma corrida: se todos correm mais rápido, isso pode ser um ponto positivo em si, mas não significa que mais pessoas possam estar entre os 10% superiores. Assim, boa parte desse esforço extra é perdida. É preciso manter isso em mente para bem avaliar os benefícios de maiores gastos em educação em relação ao seu custo.
O ponto forte do livro não é apresentar esse argumento, já bastante familiar, embora importante, mas, sim, chamar a atenção para outros perigos da atual obsessão com educação e crescimento. Um deles é que expandir a educação sem pensar melhor no assunto pode, na verdade, enfraquecer a ligação com crescimento, tal como é vista hoje. Outro ponto é que a preocupação com o crescimento econômico reduz e distorce a noção que a sociedade tem do que deve ser a educação.
No Reino Unido, como em muitos outros países, a ênfase econômica produziu uma obsessão pelas metas quantitativas. O governo quer que cada vez mais pessoas frequentem a universidade, e monta sua política financeira para esse fim. Ao que parece, porém, o aumento quantitativo reduz a qualidade média da educação universitária. Sem dúvida, este é um custo. Ganhos que se obtenham com mais graduados se reduzem como consequência do efeito “posicional”. Além disso, o maior recrutamento de professores para o nível terciário absorve os melhores candidatos, que poderiam lecionar no segundo grau. Pior que tudo, talvez, é que, do ponto de vista econômico, as melhores universidades estão ficando sem recursos. Assim, não conseguem mais preparar tão bem os alunos mais brilhantes, para que assumam seus papéis de ponta na ciência e na tecnologia.
Empobrecimento geral.
Por que ocorre esse esgotamento dos recursos das universidades de elite? Pode-se pensar que isso é improvável, especialmente se o governo está convencido de que a educação estimula o crescimento. Mas a experiência prova que não é assim, como mostra o livro de Alison Wolf. Grandes esforços para elevar o número de formados na universidade sempre são acompanhados de cortes orçamentários em todo o sistema educacional, para tornar viável a estratégia como um todo. E mais: num regime que está passando para o sistema de amplo acesso ao ensino universitário – em geral, às custas do contribuinte – torna-se politicamente difícil discriminar em favor das melhores universidades. Isso iria contra a essência igualitária do projeto educacional como um todo. Assim, as melhores universidades têm seu papel diminuido e um dos principais supostos elos entre educação e crescimento cai por terra.
Numa avaliação em que se considerem suas próprias metas quantitativas, a proposta de “educação, educação, educação” deixa muito a desejar. De todo modo, como o livro afirma, educação não é só questão de economia. Insistir em fazer mais pessoas passarem por um sistema universitário degradado será, com certeza, uma decepção em termos econômicos, por todos os motivos mencionados. É, também, algo que se destina, sob o impulso da preocupação auto-destruidora com o crescimento econômico, a deixar de lado aspectos que não se colocam como fatores úteis a esse propósito. “Nossos antepassados recentes”, conclui a autora, “vivendo numa época significativamente mais pobre, preocupavam-se com os propósitos culturais, morais e intelectuais da educação. Ao negligenciar esses objetivos, estamos nos empobrecendo.”