A cura das doenças – Se não são os computadores os carros-chefes do progresso científico atual, que campo da investigação humana tem mais substância a oferecer num curto prazo? “Sem dúvida a biologia”, aposta o brasileiro José Alexandre Scheinkman, diretor do departamento de economia da Universidade de Chicago. “Os melhores resultados, as respostas mais fecundas estarão brotando nos próximos anos dos laboratórios biológicos”, diz Scheinkman. O americano Trefil concorda: “A biologia, especialmente a molecular, é o que a física foi no começo do século, uma fábrica de novidades práticas de impacto imediato sobre a vida da maioria das pessoas”. Como? Em grande parte a medicina moderna consiste em tratar os sintomas até que o organismo tenha tempo para curar a si mesmo. De fato, em apenas três áreas os avanços médicos conseguiram efetivamente eliminar doenças. A primeira é a da saúde pública, com suas vacinas e medidas sanitárias. A segunda, a da vitória contra os micróbios. A terceira área, a mais badalada de todas, é a das grandes intervenções cirúrgicas. A quarta dimensão que se abre nesse quadro é a da terapia genética. A ciência médica do século XX entrega esse campo a seus sucessores do próximo século ainda como uma formidável promessa. Que chances tem a terapia genética de se transformar numa salvadora de vidas humanas? “As chances são boas, e isso deve começar a ocorrer de modo mais intensivo muito em breve, nos próximo anos”, comenta Fernando Reinach, biólogo molecular brasileiro da Universidade de São Paulo e da Cornell University, recentemente agraciado pela Hughes Foundation com a maior bolsa de pesquisa já concedida a um laboratório na América do Sul.
A grande dúvida dos biólogos moleculares é descobrir uma maneira mais eficiente de injetar genes benfeitores nas células do organismo de pessoas doentes. Inocular um gene capaz de consertar um problema hereditário ou destruir um processo cancerígeno é bem mais complicado do que uma transfusão de sangue ou abrir um buraco no crânio de um paciente. O maior aliado dos biólogos nessa luta, ironicamente, são os menores e mais poderosos inimigos da saúde humana, os vírus. “Brevemente estaremos assistindo a terapias muito eficientes em que vírus modificados no laboratório vão ser injetados no corpo humano para destruir doenças antes intratáveis por outros métodos”, prevê Trefil. A idéia é utilizar o potencial invasivo que os vírus já provaram possuir e transformá-los em mensageiros de genes, que , uma vez dentro das células doentes, possam consertá-las. Um painel do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, o reputado NIH, realizado há dois anos, recomendou que os laboratórios invistam pesado na “virusterapia” em detrimento de outras abordagens genéticas.