Uma Breve História do Tempo
Em nosso cotidiano não entendemos quase nada do mundo. Pouco pensamos no mecanismo que gera a luz do Sol e possibilita a vida; na gravidade, que nos cola a uma Terra que, de outra forma, nos lançaria em rotação pelo espaço; ou nos átomos de que somos feitos e de cuja estabilidade dependemos fundamentalmente. Com exceção das crianças (que não sabem o suficiente para não fazer senão perguntas importantes), poucos de nós gastamos muito tempo considerando por que a natureza é do jeito que é; de onde surgiu o cosmo, ou se ele sempre existiu; se o tempo algum dia voltará atrás, fazendo os efeitos antecederem as causas; ou ainda se existem limites máximos para o conhecimento humano. Há até mesmo crianças – conheci algumas delas – que querem saber com o que se parece um buraco negro; qual é a menor porção da matéria; porque nos lembramos do passado e não do futuro; como se explica, se houve um caos primordial, que haja ordem agora, pelo menos aparentemente; e por que existe um universo.
Em nossa sociedade não é incomum que pais e professores respondam à maioria destas perguntas com um dar de ombros, ou apelando para conceitos religiosos vagamente relembrados. Alguns não se satisfazem com este tipo de atitudes, porque elas expõem visceralmente as limitações da compreensão humana.
Grande parte da filosofia e da ciência foi impelida por estes questionamentos. Um número crescente de adultos começa a ousar formular perguntas deste gênero e ocasionalmente recebe respostas surpreendentes. Eqüidistantes dos átomos e das estrelas, expandimos nosso horizonte exploratório para alcançar o conhecimento tanto dos fenômenos menores quanto dos maiores.
Carl Sagan
Cornell University
Ithaca, Nova York