Previsões Erradas

A arrogância tecnológica é uma doença de fim de século. Já famoso pela invenção da lâmpada elétrica e do fonógrafo, o americano Thomas Edison ao anunciar, em 1891, a patenteação do projetor de imagens, precursor do cinema, previu: “Muito pouco ainda falta para ser inventado”. Pouco antes da virada do século, um historiador chegou a propor o fechamento do escritório de registro de patentes dos Estados Unidos. Na sua opinião, o serviço se tornara obsoleto porque simplesmente não haveria mais o que inventar. O mais interessante é o que os cidadãos do século passado tinham razões mais sólidas de orgulho do que as que movem alguns estudiosos apressados de hoje a decretar o fim da História, da economia e até da ciência. Perto das brutais transformações do final do século XIX, vive-se atualmente uma calmaria. O mundo experimenta hoje um período de evolução muito rápida de tecnologias já dominadas anteriormente. Em contraste, na mesma época do século passado, a humanidade estava sendo posta ideologicamente de cabeça para baixo por Sigmund Freud, Karl Marx e Charles Darwin, ao mesmo tempo que experimentava revoluções tecnológicas e sem precedentes na História.

Em poucas décadas surgiram a locomotiva (1825), a fotografia (1839), o transatlântico (1843), a eletricidade de uso comercial (1886) e o motor de combustão interna (1876). Nas comunicações, o salto foi enorme. Apareceram o telégrafo (1844) e o telefone (1876), cujo impacto sobre o cotidiano das pessoas foi incomparavelmente maior que o da Internet nos dias de hoje. Na medicina, o salto de qualidade foi dramaticamente superior ao proporcionado por qualquer droga ou terapia moderna. Em 1846 foi inventada a anestesia e, menos de vinte anos depois, a assepsia (1865) – o simples procedimento de esterilizar as mãos e os instrumentos cirúrgicos evitou mais mortes do que os antibióticos ou a tomografia computadorizada. Diante do alívio real proporcionado pela anestesia, a promessa miraculosa das terapias genéticas de nossos dias parece pálida e distante. Vale lembrar também que muitas das mais vitais tecnologias e idéias científicas de nossos dias estão assentadas em conceitos formulados por pensadores do século passado, entre elas o computador, o foguete e a teoria geral da relatividade.


 “Quando um velho e reputado cientista disser que alguma coisa é possível, ele quase sempre estará certo. Quando ele disser que é impossível, muito provavelmente ele estará errado.”
(Artur Clarke)

 “Restringir nossa atenção aos assuntos terrestres seria limitar o espírito humano.”
(Stephen Hawking)

 “Deus não joga dados com o universo.”
(Albert Einstein)

 “Deus não só joga dados com universo, mas os joga onde não possamos ver.”
(Steven Hawking)

 “A mente crédula […] experimenta um grande prazer em acreditar em coisas estranhas, e quando mais estranhas forem, mais facilmente serão aceitas; mas nunca leva em consideração as coisas simples e plausíveis, pois todo mundo pode acreditar nelas.”
(Samuel Butler, Characters)

 “Tempo virá em que uma pesquisa diligente e contínua esclarecerá aspectos que agora permanecem escondidos. O espaço de tempo de uma vida, mesmo se inteiramente devotada ao estudo do céu, não seria suficiente para investigar um objetivo tão vasto… Este conhecimento será conseguido somente através de gerações sucessivas. Tempo virá em que os nossos descendentes ficarão admirados de que não soubéssemos particularidades tão evidentes a eles… Muitas descobertas estão reservadas para os que virão, quando a lembrança de nós estará apagada. O nosso universo será um assunto sem importância, a menos que haja alguma coisa nele a ser investigada a cada geração… A natureza não revela seus mistérios de uma só vez.”
(Sêneca, século I)

Vincent Liopard. is a BIUCS Project.