Questões desafiadoras – A terapia genética vai estar logo nos consultórios médicos, mas muito de seu fundamento teórico ainda permanecera no campo da especulação. O século se encerrará sem que muitas das questões mais desafiadoras do mundo biológico tenham obtido respostas satisfatórias. Um exemplo: os cientistas ainda não sabem como de uma única célula fecundada pode surgir um indivíduo complexo. O mistério é que não existem informações suficientes nos genes para, a partir de algumas proteínas e outras substâncias nutritivas, produzir um ser humano. Só o cérebro é dezenas de vezes mais complexo do que o DNA, a molécula que transmite os caracteres hereditários. Como pode o DNA produzir o cérebro? Os cientistas simplesmente não sabem. A embriologia é ainda um mistério insondável. Depois de décadas estudando em vão como as células nascem, se reproduzem e se diferenciam no embrião, os cientistas chegaram à conclusão de que a resposta deve estar em outro lugar. Hoje, o campo mais promissor da embriologia é o estudo de como e por que as células embrionárias morrem. “Todas as cavidades, protuberâncias e complexidades do embrião, como os dedos, o globo ocular e as conexões cerebrais, são produzidas por células que sabem exatamente a hora de morrer”, diz o pesquisador americano Herbert Shirer. “Porque e como essas células decidem o instante exato em que precisam se suicidar é um dos maiores mistérios da embriologia.”
Esse e outros mistérios serão decifrados? Algum dia a ciência meteorológica saberá afirmar com certeza se vai chover na semana que vem? Será possível prever as erupções dos vulcões ou os terremotos? Previsões só podem ser feitas quando se conhecem todas as variáveis envolvidas num fenômeno e exatamente como elas interagem. é um trabalho incrivelmente complexo que os cientistas chamam de “modelagem”. O mais certo é que o ser humano desembarcará em Marte antes de poder saber com certeza se vai dar praia no fim de semana – ou se Los Angeles ou a Cidade do México serão destruídas por um terremoto em determinado dia. Mas é reconfortante saber que os mistérios fazem parte da boa ciência. Antes de serem obstáculos, as grandes interrogações são a luz no caminho dos pesquisadores. Mais poderoso do que a dúvida no campo da ciência talvez só o otimismo, como o que transborda da chamada primeira lei de Clarke, promulgada pelo fabuloso escritor de ficção científica Arthur Clarke: “Quando um velho e reputado cientista disser que alguma coisa é possível, ele quase sempre estará certo. Quando ele disser que é impossível, muito provavelmente ele estará errado”.