Especial Fronteiras do Desconhecido
(Eurípedes Alcântara)
Quando as baterias da sonda Pathfinder se esgotarem, dentro de um mês, e as emissões de rádio vindas de Marte silenciarem para sempre, os cientistas terão em mãos uma montanha de dados para analisar. Para alegria deles, as informações recolhidas pelos sensores da sonda vão servir para responder a algumas indagações, mas, principalmente, vão ajudá-los a formular uma batelada de novas perguntas. “Marte continuará sendo um mistério que manterá nossa curiosidade acesa pelo próximo século”, disse Mattew Glombek, chefe do projeto científico que colocou a formidável geringonça na superfície do planeta vermelho. “Ainda não sabemos se existe ou existiu vida por lá.” É assim que a boa ciência caminha, assentando um pouco de poeira ao mesmo tempo que semeia um vendaval de dúvidas.
Ao contrário do que sugere o despudor de alguns pesquisadores e do crescente sensacionalismo das publicações especializadas, a ciência continua produzindo mais dúvidas do que certezas absolutas. O que é muito bom. A verdadeira medida do progresso científico não está na quantidade de respostas que os pesquisadores podem produzir, mas na qualidade das indagações que eles aprendem a formular. Como se verá nas seis páginas desta reportagem, a atual geração de cientistas legará a seus pares do próximo milênio uma pauta variada de questões sem resposta. “Não acredite quando lhe disserem que desvendamos os grandes segredos da natureza e que não há mais nada de importante para ser descoberto”, alerta Robert Hazen, geofísico da Carnegie Institution, de Washington, e autor do livroPorque os Buracos Negros Não São Negros?.