Normas Técnicas para elaboração de itens fechados
Ao contrário da prática comum, os professores não devem elaborar suas provas utilizando apenas experiência ou “instinto/intuição” como orientação/ferramenta. Isto pode ocasionar sérios problemas de avaliação, incluindo sansões legais para a instituição de ensino, que pode sofrer condenações devido a má avaliação do aluno.
Vale lembrar que há grande variedade de material disponível para orientar os métodos adequados de avaliação, tais quais matrizes para elaboração de provas, que ajudam a organizar o percentual do conteúdo proferido a ser avaliado, bem como a coerência da quantidade de questões em relação ao tempo proposto a realização das mesmas e a distribuição proporcional do conteúdo ao longo de cada seção da prova, sempre em relação ao que foi ensinado.
Além das corretas distribuições de tempo e conteúdo, também se fazem necessários enunciados completos, com qualidade semântica, linguagem objetiva, clara e direta, que garantam o total e completo entendimento do aluno sobre o que deverá ser respondido.
Isso garante que o professor não vai cobrar apenas os 20% que o aluno não estudou, ou aplicar uma avaliação que nunca será totalmente respondida no tempo disponível, ou ainda, que haverá alegação de que a resposta dada está certa considerando as diferentes formas de interpretação do enunciado.
A boa elaboração de uma prova também é proteção para o aluno, professor e escola, visto que há, documentalmente, provas da evolução do processo didático da instituição que garantiram o aprendizado (ou não) do aluno.
Uma vez num tribunal, na ausência de avaliações adequadas por parte da instituição de ensino, haverá possibilidade de condenação eminente, diante de um laudo apropriado de um perito em avaliação didática. Visto que a escola não terá provas para alegar o não aprendizado do aluno, aplicar-se-á o “in dubio pro reu” que fará com que a escola tenha três opções:
1) Aplicar novo exame no aluno;
2) Devolver os recursos financeiros investidos pelo aluno, dada a não prestação do serviço e cumprimento do contrato (em caso de instituições particulares);
3) Aprovar o aluno.
Caso a instituição detenha um profissional capacitado para a aplicação de exame de qualidade, a opção número 1 torna-se válida. Caso contrário, o professor (sem a ajuda/orientação adequada) falhará novamente na elaboração da prova. O aluno entrará novamente na justiça e haverá nova condenação por “in dubio pro reu“.
Sobram então as opções número 2 e número 3. Sendo que a opção número 3 é arriscada, visto que o aluno aprovado pode ou não ser detentor do conhecimento contratado.
Após elucidada a importância das avaliações concisas, como exemplo, seguem algumas regras que podem ajudar na elaboração de provas fechadas:
1. Tipos de item
¤ Itens de identificação de resposta.
nesse caso, são apresentadas alternativas e o examinado deve marcar a alternativa correta.
2. Diretrizes para a redação de itens fechados
2.1. Orientações gerais:
¤ Estipular cuidadosamente o objetivo do item – determinar qual conhecimento ou habilidade pretende verificar. (descritor)
¤ Selecionar aspectos importantes e significativos – desprezar aspectos irrelevantes e triviais.
¤ Cada item deve avaliar somente um descritor.
¤ Evitar perguntas ardilosas.
¤ Não utilizar itens que podem ser respondidos com base apenas no uso da lógica e do senso comum.
2.2. Aspectos relacionados à redação:
¤ O vocabulário empregado deve ser adequado ao nível de conhecimento lingüístico dos examinados.
¤ O enunciado do item deve ser claro e inequívoco.
¤ O item deve ser conciso, evitando-se a inclusão de dados desnecessários à solução.
¤ O enunciado deve incluir os dados que forem comuns a todas as alternativas das respostas.
Exemplo: A menina saiu pelo:
A) caminho.
B) canto.
C) fundo.
D) mundo.
¤ A linguagem negativa deve ser evitada, pois pode confundir os examinados. Se for inevitável o uso de negativas, destacar a palavra que expressa a negação. Jamais usar dupla ou tripla negação.
¤ As regras gramaticais e ortográficas devem ser observadas.
¤ A alternativa correta deve ser exata, clara e abrangente.
3. Regras para elaboração dos itens
3.1. Gerais
¤ Todos os itens devem ser inéditos.
¤ Os itens devem conter quatro alternativas. (¹)
¤ Os itens devem corresponder rigorosamente ao que solicita o descritor.
¤ Os itens devem ser autônomos, nenhum deles pode oferecer pistas para a resposta de alguma outra.
¤ Deve-se considerar o tempo exigido para a leitura.
3.2. Conteúdo
¤ Assegurar correção conceitual.
¤ Considerar o cotidiano dos alunos e da sala de aula.
¤ Evitar as “pegadinhas”, intencionais ou não.
¤ Não cobrar nomenclatura desligada do contexto.
¤ Não cobrar fórmulas memorizadas.
¤ Excluir qualquer referência discriminatória quanto à etnia, religião ou gênero.
¤ Apresentar um único problema que não envolva muitas etapas.
¤ Os itens não devem ser respondidos com base somente na lógica e no bom senso.
¤ Não produzir item que envolva preferências pessoais ou críticas de juízo.
3.3. Linguagem
¤ Empregar vocabulário simples e nacionalmente conhecido.
¤ Utilizar linguagem adequada à idade e ao desenvolvimento cognitivo dos alunos.
¤ Usar somente textos simples nos itens das disciplinas específicas, de modo a medir a competência nessa área, sem exigências maiores em leitura.
¤ Redigir o enunciado afirmativamente, salvo se não houver exigência em contrário. Caso o descritor exija uma formulação negativa, as palavras de cunhoNEGATIVO devem ser DESTACADAS.
¤ Não empregar dupla negativa. (Quem não saiu não foi…)
¤ Não usar palavras ou expressões como NUNCA, SEMPRE, TODO(A), TODOS(AS), TOTALMENTE, SOMENTE, ABSOLUTAMENTE, COMPLETAMENTE.
3.4. Enunciados
¤ Formular enunciados completos e independentes, de modo que o aluno possa responder sem ler as alternativas.
¤ Buscar originalidade sem sofisticação, tendo como referência a sala de aula.
¤ Incluir no enunciado todos os termos comuns às alternativas.
¤ Não usar a expressão: É possível afirmar que. (²)
3.5. Alternativas
¤ Ordenar as alternativas segundo uma ordem lógica (alfabética, cronológica, crescente, etc…).
¤ Não criar alternativas com expressões: Todas as anteriores, nenhuma das anteriores. (³)
¤ Assegurar que todas as alternativas sejam equivalentes em relação à forma, comprimento e estrutura gramatical.
¤ Distratores devem ser plausíveis e homogêneos. Dessa forma, o aluno não acerta por exclusão.
¤ As alternativas não devem conter detalhes irrelevantes, nem conteúdos absurdos.
¤ As alternativas não devem conter ambigüidades.
¤ As alternativas não devem conter umas às outras, nem devem ser análogas, equivalentes.
¤ Se o enunciado for uma pergunta, alternativas começam com maiúsculas e terminam com ponto; se for frase incompleta, as alternativas aparecem em minúsculas e termina com ponto.
3.6. Formato e apresentação
¤ Conferir o gabarito.
¤ Conferir coerência gramatical entre enunciados e alternativas.
¤ Utilizar ilustrações adequadas e relevantes em relação ao item.
¤ Observar as normas da ABNT na apresentação de textos, de figuras e referências bibliográficas.
¤ Avaliar a apresentação visual, tendo a clareza como critério.
¹ Questiona-se o uso de cinco alternativas, bem como o uso de N.D.A. (nenhuma das acima/anteriores) tendo em vista um estudo sobre estatística, que indica que a quinta alternativa geralmente é inócua ou desperdiçada, bastando apenas quatro alternativas para surtir o efeito desejado de avaliar. Quaisquer números acima de quatro alternativas terá o mesmo efeito que apenas quatro.
² Faz-se um melhor emprego utilizando-se: “É correto afirmar que“.
³ Utilizar-se de técnicas como as descritas caracterizam uma questão de Verdadeiro/Falso travestida.