Aprendemos coisas inúteis!
As disciplinas escolares são necessárias para uma formação intelectual adequada de um cidadão. O Idioma e Literatura do país onde se reside, Redação, Sociologia, História Geral e Regional, Política, Geografia, Geopolítica, Filosofia, Psicologia, Biologia, Matemática, Física, Química e Idiomas Estrangeiros são fundamentais nas relações culturais dos indivíduos. É importante que os homens tenham um ponto de vista global e saibam discutir sobre os mais diversos assuntos, pois esta é uma exigência que está se tornando imprescindível no mundo atual.
O problema essencial é o de que as escolas não nos ensinam a pensar, mas a ter pensamentos prontos. Papagueamos os fatos mas não sabemos tirar real proveito deles. Uma pessoa de Q.I. elevado armazena muita informação mas não sabe aplicar nenhuma delas com sabedoria. Não importa a quantidade mas a qualidade do saber. Inteligentes acumulam informação, Sábios utilizam a informação com prudência por menor que seja sua cultura.
Veja abaixo o ponto de vista de Leo Buscaglia:
Um coelho, pássaro, peixe, esquilo, pato e etc. resolveram fundar uma escola. Todos se sentaram para escrever o currículo. O coelho insistiu para que a corrida figurasse no currículo. O pássaro insistiu para que o vôo constasse do currículo. O peixe insistiu pela natação no currículo. O esquilo insistiu para que a escalada perpendicular das árvores figurasse no currículo. Todos os outros animais queriam que suas especialidades também figurassem no currículo, de modo que incluíram tudo e depois cometeram o erro glorioso de insistirem para que todos os animais fizessem todos os cursos. O coelho foi magnífico na corrida; ninguém sabia correr como o coelho. Mas insistiram em dizer que era uma boa disciplina intelectual e emocional ensinar o coelho a voar. Assim, insistiram para que o coelho aprendesse a voar e o puseram num galho e disseram: “Voa, coelho!” E o pobre coitado saltou, quebrou a perna e fraturou o crânio. Teve uma lesão no cérebro e depois não conseguia mais correr muito bem. Assim, em vez de ter um A na corrida, teve C. E teve D em vôo, porque estava tentando. E a comissão do currículo ficou satisfeita. O mesmo se deu com o pássaro – voava como um louco por toda parte, dando voltas e reviravoltas, e ia ganhar um A. Mas insistiram para que esse pássaro fizesse buracos no chão como uma toupeira. Claro que ele quebrou o bico e as asas e tudo o mais e aí não sabia mais voar. Mas ficaram muito satisfeitos ao lhe darem um C no vôo, e assim por diante. E sabem quem foi o melhor aluno daquela turma, quando se formou? Uma enguia retardada, que sabia fazer quase tudo razoavelmente. A coruja abandonou os estudos e agora vota contra todos os impostos que tenham a ver com escolas.
Sabemos que isso está errado, mas ninguém faz nada a respeito. Você pode ser um gênio. Pode ser um dos maiores escritores do mundo, mas só pode ingressar na universidade se for aprovado em trigonometria. Para quê! Não pode sair do ginásio sem ser aprovado nisso e naquilo e naquiloutro! Não pode sair do primário sem fazer isso e isso e mais isso! Não se trata de quem você seja. Veja a lista dos que abandonaram os estudos: William Faulkner, John F. Kennedy, Thomas Edison. Não suportaram a escola. “Não quero aprender a subir nas árvores perpendicularmente. Nunca vou fazer isso. Sou um pássaro. Posso voar até o topo da árvore sem ter de fazer isso”. “Não importa, é uma boa disciplina mental”.
Como indivíduos, não nos devemos contentar em sermos como todo mundo. Temos que lutar contra o sistema. Por exemplo, os professores de Desenho. (Não tenho nada contra os professores de Artes ou Desenho. Tenho pena deles, coitados.) Lembro-me de quando iam à minha sala de aula na escola primária, e tenho a certeza de que vocês também se lembram. Davam-lhes papel e a professora punha o desenho na sua frente e você ficava muito empolgado. Estava na hora da aula de Desenho. Você estava com todos os lápis de cor à sua frente e ficava esperando de braços cruzados. E aí chegava correndo aquela pobre mulher abatida, que já tinha ensinado Desenho em mais de 14 outras salas de aula, naquele dia. Ela entrava correndo, o chapéu torto, ofegante e dizia: “Bom dia, meninos e meninas. Hoje vamos desenhar uma árvore”. E toda garotada dizia: “Oba, vamos desenhar uma árvore!” E ela aí se levantava com um giz de cor verde e desenhava aquela coisa verde grande. E depois punha uma base e uns capins, e dizia: “Aí está a árvore”. E a garotada olhava e dizia: “Isso não é árvore, é um pirulito”. Mas ela dizia que era uma árvore e depois distribuía os papéis e dizia: “Agora desenhem uma árvore”. Na verdade, não estava dizendo “desenhem uma árvore”, e sim “desenhem a minha árvore”. E quanto mais cedo você descobrisse que era isso que ela queria e pudesse reproduzir esse pirulito e entregá-lo a ela, mais cedo ganharia a nota A.
Mas lá estava o pequenino Júnior, que sabia que aquilo não era uma árvore, pois ele tinha visto uma árvore como aquela professora de desenho nunca vira! Tinha caído da árvore, mastigado a árvore, cheirado a árvore, sentado nos galhos de uma árvore, escutara o vento soprando nas folhas de uma árvore, e sabia que a árvore dela era um pirulito. Assim ele pegou o lápis de cor de magenta, laranja, azul, roxo e verde e rabiscou a folha toda e a entregou à professora, todo feliz. Ela olhou para o papel e disse: “Ah, meu Deus – lesão cerebral – Turma Especial”.
Quanto tempo as pessoas levam para perceber que o que estão dizendo de fato é “para passar, quero que reproduzam a minha árvore”. E assim vai indo pela primeira série, segunda, terceira, quarta, quinta, e pelos seminários e universidade. Eu dirijo seminários na universidade. É assombroso como as pessoas aprenderam a papaguear, a essa altura. Pensar? Ridículo. Sabem lhe dar os fatos, letra por letra, como você os deu a eles. E não se pode culpar esses alunos, pois é isso que lhes ensinaram. Você lhes diz: “Sejam criativos”, e eles ficam com medo. “Ele não está falando sério, está?” E então, o que acontece com a nossa singularidade, o que acontece com a nossa árvore? Toda essa bela singularidade entrou pelo cano. Todo mundo é igual a todo mundo e todos estão felizes. R. D. Laing diz: “Ficamos satisfeitos quando conseguimos tornar os nossos filhos iguais a nós: frustrados, doentes, cegos, surdos mas com um Q.I. elevado”.
(Vivendo, Amando & Aprendendo – Leo Buscaglia, Editora Record)
Título do original: Living, Loving & Learning, 1892